QUEM DE FATO ERA JESUS, À LUZ DA BÍBLIA?
Desde o primeiro século, entre cristãos
e não cristãos, perdura uma pergunta: Quem é Jesus? Ao longo do ministério de
Cristo, tanto os fariseus, quanto os saduceus, questionaram e puseram em dúvida
a divindade de Jesus (Mateus 12:22-24,38;16:1; Marcos 3:22, etc.). Como os
líderes religiosos da época duvidavam da divindade de Cristo, a dúvida também
pairava entre os seus seguidores. Sabedor desta realidade, perguntou aos seus
discípulos o que os homens e eles pensavam sobre o assunto. Como forma de saber quais eram as
convicções deles perguntou:
"Quem dizem
os homens ser o Filho do homem? E eles disseram: Uns, João o Batista;
outros, Elias; e outros, Jeremias, ou um dos profetas. Disse-lhes ele: E
vós, quem dizeis que eu sou? E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o
Cristo, o Filho do Deus vivo" (Mateus 16:13-16).
Essa é uma dúvida que perpassa toda a história do cristianismo desde o primeiro século. Ao longo destes dois milênios de história surgiram filosofias e teorias teológicas negando a divindade e a humanidade do Senhor. Dentre estes movimentos, destacamos aqueles que foram ou são ainda mais contundentes na defesa das suas ideias e que contribuíram para a criação de doutrinas falsas, as quais tem sido apresentadas por falsos mestres e profetas, sujeitos dos quais o próprio Jesus e depois os apóstolos muito advertiu a igreja:
- O ebionismo, foi
um movimento cristão liderado por um grupo judaizante dissidente em
Jerusalém, no primeiro século, que negava a divindade de Jesus, considerando-o
como um profeta apenas. Ele nasceu homem e foi adotado por Deus como filho,
por ser fiel, piedoso e um profeta incomparável.
- O docetismo, é uma
doutrina cristã que surgiu no final século segundo, defendida por
Serapião, bispo de Antioquia. Os adeptos do docetismo acreditavam que o
corpo de Jesus era uma ilusão. Eles defendiam que Jesus poderia ser de
alguma forma divino, mas negavam que ele tenha sido humano. Como não
acreditavam que Jesus foi humano, também negavam a morte e a ressurreição
de Cristo, já que para eles o Senhor não tinha corpo.
- O adocionismo, é uma visão teológica que surgiu e se
espalhou na segunda metade do século III, tendo como principal defensor
Paulo de Samosata, bispo de Antioquia, que afirmava que Jesus nasceu
como um ser humano normal e que, por causa da sua bondade, Deus o adotou
como filho, sendo ele filho de Deus por geração e adoção[i].
- O arianismo, é uma teoria defendida por Ário, presbítero
na igreja em Alexandria no Egito, no IV século, que negava a trindade e
dizia que Jesus é o filho, mas não o próprio Deus. Ele dizia que Cristo
foi criado por Deus como todas as criaturas e questionava sua eternidade.
- O
Islamismo, movimento religioso que
surgiu no século VII, fundado por Mohamed ou Maomé, que vê Jesus como um
dos maiores e mais influentes profetas que existiram. Ele é comparado a
Moisés, a Abraão e a Maomé. Afirma que Jesus foi um ser criado, da mesma
forma que o foi Adão.[ii]
Eles reconhecem que Jesus é o Messias, que fez milagres, que ensinou
grandes verdades, mas não o reconhecem como Deus.
- O
Espiritismo Kardecista, é um movimento filosófico liderado por Allán
Kardec, na França, no século XIX, que afirma ser Jesus um espírito de luz
ou um ser iluminado, moralista, que prezava pela simplicidade e é exemplo
para a humanidade, que viveu para mostrar à humanidade o caminho da
evolução espiritual. Segundo Maria Helena,
“O Espiritismo ensina que Jesus
percorreu uma trajetória de progresso gradual através das encarnações. Ele
teria vivido vidas anteriores em diferentes períodos históricos, enfrentando
desafios e aprendendo valiosas lições para o seu crescimento espiritual”[iii]
- As Testemunhas de Jeová, é grupo
religioso que surgiu no final do século XIX, nos Estados Unidos, que
defende a tese de que Jesus é um deus menor, o primeiro a ser criado por
Deus, que o ajudou, como criatura, na criação das demais coisas. Eles
negam a existência da Trindade. Na tradução do novo mundo da Bíblia
Sagrada, uma versão particular, eles apresentam Jesus, no evangelho de
João 1:1, da seguinte forma: “No
princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era um deus”[iv].
As doutrinas e ensinamentos defendidos por estes
grupos religiosos sobre Jesus, são consideradas heréticas pelos teólogos
ortodoxos da idade média e por teólogos e líderes religiosos contemporâneos, comprometidos
com a Palavra de Deus, a Bíblia Sagrada. Tais ensinamentos deturparam tudo o
que a Bíblia ensina sobre a divindade e a humanidade de Jesus e levou muitos a
se desviarem da fé cristã, assumindo posicionamentos que negam que a Bíblia
Sagrada é a Palavra de Deus e que seu texto, escrito por inspiração divina (2
Pedro 1:21), exprime toda a verdade. A Bíblia não contém a Palavra de Deus, ela
é a Palavra de Deus.
Além dos movimentos negacionistas históricos da
divindade e humanidade de Jesus, se perguntarmos hoje a muitas pessoas que se
dizem cristãs, sobre quem é Jesus para elas, as respostas não serão muito
diferentes dos contemporâneos de Jesus, conforme narra o evangelista Mateus.[i] Para uns na atualidade, Jesus foi um grande líder, para
outros o fundador do cristianismo, um profeta, um revolucionário, um homem que
mudou a história, um que influenciou multidões com seus ensinamentos.
Sobre tais pessoas Paulo diz: “[...] quero que compreendam que ninguém que fala pelo Espírito de Deus
amaldiçoa Jesus, e ninguém pode dizer que Jesus é Senhor a não ser pelo
Espírito Santo” (1 Coríntios 12:3 – NVT). Também João, o evangelista,
afirma: ‘E quem é o mentiroso? Aquele que afirma que Jesus não é o Cristo.
Quem nega o Pai e o Filho é o anticristo. Aquele que nega o Filho também não
tem o pai. Quem reconhece o Filho tem também o Pai” (1 João 2:22-23 - NVT). Neste texto, os apóstolos estavam advertindo
os cristãos exatamente contra os falsos mestres. Tais pessoas não tem
compromisso com a verdade, Cristo é a verdade que liberta (João 8:32).
Vamos agora para a Bíblia. Ela é a
maior autoridade sobre a identidade de Jesus. Baseados no que a Palavra de Deus
nos ensina, podemos afirmar com segurança que Jesus é Deus, assim como o é, o
Pai e o Espírito Santo (João 1:1; Filipenses 2:6; Isaías 9:6; 2 Pedro 1:1; Tito
2:13; 1 João 5:20) e também homem (1 Timóteo 2:5; João 1:14; Hebreus
2:9,17-18;Filipenses 2:6-8). Enquanto estava na terra Ele era ao mesmo tempo
divino e humano. Este é um mistério que somente se pode aceitar pela fé,
através da ação do Espírito Santo na nossa vida.
Como Deus Ele participou do processo de
criação do céu, da terra e de tudo o que neles há, vejamos: “No
princípio era o Verbo, e o verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele
estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele e sem ele
nada do que foi feito se fez.” (João 1:1-3 - ARC). Vejamos ainda o que
diz o escritor aos Hebreus.
“No princípio,
Senhor, firmaste os fundamentos da terra, e os céus são obras das tuas mãos.
Eles perecerão, mas tu permanecerás; envelhecerão como vestimentas. Tu os
enrolarás como um manto, com roupas eles serão trocados. Mas tu permaneces o
mesmo, e os teus dias jamais terão fim”. (Hebreus 1:10-12)
Ele também esteve presente na criação
do homem (Gênesis 1:26). O verbo “façamos” e o pronome possessivo “nossa”
não deixam dúvida da presença de Jesus, como Deus, naquele momento marcante do
projeto divino de criação. Jesus disse Judeus que questionavam sua divindade: “Eu e
o Pai somos um” (João 10:30 - ARC). Como Deus, Jesus operou muitos
milagres e maravilhas, demonstrou seu poder sobre a morte quando ressuscitou
Lázaro, depois de quatro dias de morto e já sepultado (João 11:39-44).
Demonstrou também sua autoridade sobre a natureza, quando fez o vento
aquietar-se e o mar (o lago da Galileia ou de Genesaré) parar imediatamente,
mediante Sua palavra (Mateus 8:26-27; Marcos 4:38-41; Lucas 8:24-25). Ele também
perdoou os pecados do paralítico que foi colocado, por seus amigos dentro da
casa onde ele estava ensinando, pelo telhado. Vejamos o texto bíblico:
Vieram alguns homens,
trazendo-lhe um paralítico, carregado por quatro deles. [...] Vendo a fé que
eles tinham, Jesus disse ao paralítico: “Filho,
os seus pecados estão perdoados”. Estavam sentados ali alguns mestres da
lei, raciocinando em seu íntimo: “Por que esse homem fala assim? Está
blasfemando! Quem pode perdoar pecados,
a não ser somente Deus?” Jesus percebeu logo em seu espírito que era isso
que eles estavam pensando e lhes disse: “Por que vocês estão remoendo essas
coisas em seus corações? Que é mais fácil dizer ao paralítico: ‘Os seus pecados
estão perdoados’, ou: ‘Levante-se, pegue a sua maca e ande’? Mas, para que vocês saibam que o Filho do
homem tem na terra autoridade para perdoar pecados – disse ao paralítico – eu lhe
digo: “Levante-se, pegue a sua maca e vá para casa”. (Marcos 2:3-11 - NVI)[ii]
Ainda como Deus Jesus é onipotente
(Mateus 28:18; 8:27, Apocalipse 1:17-18; etc.); onisciente (Mateus 9:4; 6;64;
Apocalipse 2:2; 3:15 etc.); onipresente (Mateus 28:20); imutável (Hebreus 13:8);
eterno (Hebreus 1:8,12; Lucas 1:33); incriado (Colocenses 1:17; 1 Pedro 1:20;
João 17:5) e; também imune ao pecado (Hebreus 4:15; 1 Pedro 2:22). James Boyce,
pastor Batista, teólogo calvinista norte-americano e professor disse:
Todos os atributos da divindade
são atribuídos a ele: eternidade da existência, autoexistência, onipotência, onipresença,
onisciência, presença no céu e na terra e unidade com o Pai e cooperação com
ele. Esses atributos são declarados a ele e manifestados por ele enquanto se
apresentou na forma de homem no meio dos seus discípulos e da multidão.[iii]
Como homem, Jesus encarnou por meio de Maria (Lucas
1:31-32), cumprindo na integralidade o propósito divino de salvar a humanidade
(Gênesis 3:15; 1 Pedro 1:19-20). Ele viveu as emoções e as necessidades dos
seres humanos: chorou (João 11:35); sentiu tristeza (Marcos 14:35); medo (Lucas
22:44; Mateus 26:42-43), a pressão das tentações vividas pela humanidade
(Mateus 4:1-11; Hebreus 4:15); a dor da traição (Lucas 22:48); a dor do abandono
dos seus discípulos e do Pai (Mateus 26:56; 27:46) e; por fim a morte (Lucas
23:46; Apocalipse 1:18).
A divindade e a humanidade de Jesus, à luz da
Bíblia Sagrada, é incontestável. Como Deus Ele manifestou seu poder, sua glória,
sua eternidade, sua santidade, seu amor (superior a qualquer forma de amor que
os seres humanos possam manifestar), sua autoridade sobre a morte, sobre as
leis da natureza, as doenças, os demônios e o inferno. A declaração de Pedro
sobre quem era Jesus revela Deus em sua essência (Mateus 16:13-16). Da mesma
forma que os argumentos bíblicos são fortes o suficiente para que tenhamos
convicção sobre sua divindade e humanidade. Boyce (2021) afirma:
“Não temos
aqui um Deus e um homem; mas temos alguém que é Deus e que também é homem; e
que, como pessoa, une em si mesma, por meio dessas duas naturezas, as muitas características
exatamente opostas necessárias à feitura da sua obra”[i].
Assim, respondendo à pergunta, podemos
afirmar: Jesus é plenamente Deus e
plenamente homem. As duas naturezas não o tornam uma aberração, mas a fiel demonstração
do amor de Deus para com a humanidade. Era necessário que Jesus, mesmo sendo
Deus, se tornasse homem, a fim de que, pudesse sentir todas as nossas dores,
fraquezas, angustias e necessidades e fosse nosso sumo sacerdote perfeito
(Hebreus 4:15), que pagou, com o seu próprio sangue, o preço da nossa redenção
(Hebreus 9:22; 1Coríntios 6:20). Cumprido o plano divino de salvação Deus o
exaltou, restabelecendo a glória que tinha antes (João 17:24; Filipenses
2:9-11).
Em
resumo: Jesus é Deus eterno, supremo, criador dos céus e da terra, salvador,
libertador, que por um tempo se fez carne, para garantir com seu sangue, o
perdão dos pecados, a redenção, a regeneração e a libertação do homem do poder reino
da morte. Ele é o Cristo, filho do Deus vivo. A Ele seja dada a glória, a honra
e o louvor, por toda a eternidade.
@pr.gilvan.sousa
[1] Fonte:
Ministério Apologético; Teologia Brasileira; Grandes Heresias, Editora Cleopas;
Instituto Cristão de Pesquisas; Bíblia Tradução Novo Mundo, das Testemunhas de
Jeová.
[2]
Disponível em: Jesus
no Islã (parte 1 de 3) - A religião do Islã (islamreligion.com). Acessado
em 18/06/24.
[3] Disponível
em: Quem
é Jesus no Espiritismo: Uma Profunda Análise | Mensagem de Jesus.
Acessadoo em 18/06/24.
[4] Grifo
nosso.
[5] Mateus 16:13-16.
[6] Idem.
[7] Boyce,
James Petigru. Teologia Sistemática: uma
introdução aos pilares da fé. 2ª ed, Rio de Janeiro – Pro Nobis Editora,
2021, p. 378.
[8] Idem, p. 390.
Amém, que boa e esclarecedora palavra, acerca da divindade e humanidade de Jesus. Parabéns pr Gilvan. Obrigada por enviar.
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